A Providência e meu carro quebrado

Esses dias para trás fomos convidados para assistir o segundo filme do pantera-cor-de-rosa. O filme em si não perfaz um atrativo tanto quanto compartilhar de momento de amizade com quem se aproxima de nós nutrindo a mesma fé. Como já tínhamos assistido o primeiro filme com o mesmo grupo, topamos ver a continuação. De fato o filme é um pouco engraçado. Acho que o sucesso de filmes assim não se deve tanto pela diversão que proporcionam, mas pela identificação que produzem. Deixe-me explicar: eu creio que existe gente que se sente como o detetive, que se vê atrapalhado e atrapalhando a vida das pessoas ao redor. Que acha que as coisas só acontecem com ela... E geralmente, só as coisas ruins. O tipo de gente que, se sorte existisse, elas nunca saberiam, porque não teriam mesmo... Eu não tenho como provar se exista mais alguém assim, só sei que existe um: eu!

Meu carro quebrou uma segunda vez. E isso não trouxe transtornos somente à minha vida. Visto a quantidade de pessoas que se envolvem e rotinas que se alteram por conta de um problema que parece, à primeira vista, somente meu, fiquei pensando no quanto a vida das pessoas é modificada por um fato desencadeado por uma série de acontecimentos na vida de outra. Um exemplo disso foi a mãe do rapaz que me ajudou hoje, que contava com ele para buscá-la no fim do experiente. Só que estávamos no carro dele, indo buscar o meu, quando deu o horário. Ele estava preocupado, ligou para explicar o atraso, mas enquanto nós nos dirigíamos para um local onde ele me deixaria com outrem para então cumprir sua obrigação e ir buscá-la, acabamos por cruzar com ela no trânsito, indo para casa. Ele disse: "meu problema se auto-resolveu, era minha mãe ali no carro, como ela não precisa mais de mim, podemos seguir"... Curioso, não?

Esta não é a primeira vez que meu carro quebra. Esta sequer é a primeira vez que um carro meu quebrou. Sendo eu o feliz dono de algumas unidades mais antigas, tive a oportunidade e privilégio de conhecer sobre carros, sobre peças e conhecer oficinas das maneiras mais inusitadas. Mas não foi só isso que vi, não. Ultimamente, com os olhos abertos pelo próprio Deus, tenho visto mais que contratempos e infortúnios, mais que dores de cabeça e acidentes, tenho visto a providência de Deus.



Da primeira vez, o carro deu uma pane elétrica, e eu estava no mesmo lugar que estive no segundo episódio. Se eu já comecei a desconfiar do local? Acho que se alguém tivesse passado pelo que passei, até o mais reformado dos crentes seria tentado a desconfiar que tem algo de muito errado lá!

Continuando... Enquanto dirigia na direção da longínqua escola da mais nova, o carro apagou repentinamente à poucos metros antes da chegada ao destino. Pedi por ajuda, mas como uma tragédia não é perfeita sem os detalhes sórdidos, a bateria do celular acabou. Naquele dia, providencialmente, diferente do costume habitual, a professora da Riane estava saindo mais tarde, e curiosamente sem compromissos para a tarde daquele dia. Parou, perguntou se tínhamos um problema. E lá fui eu esbarrar na vida de quem "nada tinha a ver com isso".

No caminho, enquanto nos dirigíamos para nossa casa, a professora resolveu querer saber mais, como por exemplo, como eu faria para pegar a outra filha na direção oposta. Eu, que não tinha muita ideia do que iria fazer, não pareci convincente na explicação, e ela resolveu dirigir até lá, providenciando assim o transporte necessário para as duas chegarem à salvo em casa. Nada mais havendo para ser feito, almoçamos em família. Enquanto retornava à universidade, me perguntava como faria para retornar à escola, visto a distância e não haver também qualquer forma de transporte público disponível nas redondezas. As duas pessoas que costumam estar disponíveis e me ajudar, estavam ausentes naquele dia. Depois de tentar ligar e procurar pessoalmente por alguma ajuda, sentei meio "rendido" no saguão, sem saber o que fazer para chegar lá. Enquanto pensava e olhava para o nada, a secretária de alguém (não conheço seu chefe) sai de seu posto ao meu encontro: "Eu acho que te vi hoje cedo. Sua filha estuda em "tal lugar"?" Minha resposta despretensiosa foi: "Sim, estuda." Depois de descobrirmos a idade das filhas, descobrimos também que não estavam só na mesma escola, mas na mesma sala". Nos despedimos pois seu marido que com ela estava se dirigia para a escola, para buscar a filha que ficava lá até um pouco mais tarde, pelos menos aquela semana. Opa?! Voltar para escola? Eu, que já havia contado a história, mas sem saber dessa última preciosa informação, me vi aceitando a oferta de carona, e lá estava eu de volta para o carro, com um problema: como eu o consertaria? Foi então que o mesmo que ofereceu a carona me levou até a garagem onde eu havia comprado o carro. Como haviam duas semanas que comprara o carro, ele não somente foi buscar o carro, que foi consertado, no dia seguinte, como os custos ficaram mínimos, mas o aprendizado não.

Na segunda ocasião, praticamente no mesmo lugar, um buraco "nasceu do nada" e resolveu se colocar debaixo de uma das rodas do carro. Ele não só cortou o pneu, como ajudou na perda do controle que resultou numa subida do meio-fio que injuriou a roda de alguma forma ainda desconhecida. Enquanto escrevo esse texto, ainda não sei o valor do orçamento. E a providência com isso? Com a bateria do celular nos 12%, ainda era possível procurar por ajuda (a ideia era carregá-lo na hora do almoço). Hoje havia alguém disponível do outro lado da linha. Alguns minutos de espera e lá estávamos eu e a mais nova, no carro de alguém, indo buscar a mais velha. Elas já viram esse filme antes... Eu é que não queria ver sua continuação, mas esta não era uma decisão que me cabia.

Quando retornamos, hoje sem direto ao tempo para almoço, deixei as crianças em casa e saí em busca de ajuda. O filho de uma outra secretária no prédio estava disponível, podia ajudar e trabalhava com carros. O problema de hoje era mais grave, e foi providenciado ajuda especializada. Depois de idas e vindas com este rapaz, buscando maneiras de trazer o carro para sua oficina, eu constrangidamente agradeço todo o empenho que tomou a tarde toda, e, quase no final da jornada, eu ouço: "Sabe, se fosse ontem, eu não poderia ajudar... Estava muito ocupado. Mas hoje não tinha nada para fazer, foi um prazer". O que dizer? Ufa?!

Ainda não sei quanto vai ficar, mas já vi como Deus providenciou a maneira de pagar. Em breve saberei como o carro ficará consertado, pois o rapaz vai dar um jeito, quer em sua oficina, quer na de seus conhecidos. Como ele conhece muita gente ali, e vai pedir que façam como que para ele, já adiantou que os danos serão reduzidos ao mínimo... providencialmente.

Na primeira vez vi e aprendi o que na segunda vez confirmei: para cada dia Deus provê providência necessária para aquele dia. Me lembro que no dia seguinte da primeira ocasião, antes que eu chegasse muito perto da escola, eu cruzei no trânsito com a professora. Tivesse sido no dia seguinte, sua ajuda não seria possível. Deus está sempre providenciando, protegendo e nos cercando com suas mãos. As sacudidas na paz cotidiana que Deus faz servem para o santo propósito de nos relembrar graciosamente que ele nos ama e que o conforto do presente pode facilmente escurecer as vistas quanto ao nosso verdadeiro lar, verdadeiro conforto, verdadeira felicidade. A providência, que usa quem quer, quando quer, do modo que melhor servem aos propósitos da glória, são tanto um lembrete disso, quanto o que viabiliza a vida aqui neste mundo passageiro, no caminho para o lar definitivo. É duro, desconfortável, mas absolutamente necessário confessar e reconhecer: é bom que Deus sacuda nossa paz e conforto vez por outra, para que não deixemos de nos ver como realmente somos: viajores neste mundo tenebroso.

E um dia, naquele dia, quando nos encontramos com aquele que tantas vezes nos proveu, protegeu e fez com que todas as coisas cooperassem para o nosso bem, nos será dado todo o tempo (depois do fim) do mundo para agradecer, louvar e adorar por todos os seus feitos poderosos. Então, até lá... Sejamos fortes!

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