Você está me ouvindo?


É comum dar-se atenção ao orador e às técnicas que ele deve possuir para melhorar a sua habilidade de falar, numa busca salutar em torná-lo melhor comunicador. Embora grande parte do êxito da comunicação, quer seja verbal, quer escrita ou corporal, dependa do comunicador, isto é, de quem fala, penso ser relevante salientar a importância do ouvinte...

No artigo "Escute Essa" de Reinaldo Polito, você pode ler que “Possuímos uma audição seletiva. De maneira geral prestamos atenção nas informações que favorecem a nossa causa e os nossos interesses, e nos afastamos das mensagens que julgamos desfavoráveis aos nossos anseios.” Esta preciosa informação deveria nos fazer refletir sobre como temos escutado.

Polito faz uma relevante diferenciação, dizendo que “Existe uma grande diferença entre ouvir e escutar. Ouvir é apenas uma atividade biológica, que não exige maiores esforços do nosso cérebro, enquanto que escutar pressupõe um trabalho intelectual, pois após ter ouvido, é preciso interpretar, avaliar e reagir à mensagem.” (Reinaldo Polito, Revista Vencer nº 9)
Quantas vezes você, leitor, não sentou-se no confortável sofá da sala (nem sempre tão confortável assim) para simplesmente ouvir qualquer coisa. Um costume que tornou-se hábito já entranhado, porque afinal é hora de relaxar, sem stress... Nada errado. O problema é a confusão, quando precisaríamos escutar no lugar de ouvir, e ouvimos fingindo que escutamos...
Quando a mulher, ansiosa em ter uma conversa adulta e compreensível, muito diferente da que teve durante todo o dia com seu bebê de 1 ano que está balbuciando alguns monosílabos, chega até ao marido desejosa de conversar; se o insensível não a enxota na base de grosserias, sua indiferente audição será o escape para a situação. Escutar... jamais! Escutar implicaria em manter-se atento e avaliar cada informação gerada pela conversa e reagir em conformidade... isso mesmo, reagir a estas informações...
Eu quero é descansar!
Voltanto à tv, por exemplo, quando você a liga e, sapiando pelos canais, você encontra algum orador interessante (geralmente os religiosos são os que mais chamam a atenção), a tendência, como sempre é ouvir e não escutar. Todo tipo de besteiras e teorias invadem nossa mente através dos canais auditivos, sem serem processadas pela habilidade seletiva e crítica da escuta, e inconscientemente somos levados pelo remanso daqueles que movem as massas... Ou então, quando um amigo seu começa a contar como está numa situação difícil, enfrentando ou um problema financeiro ou uma doença agrave, ou não é ele, mas um famíliar dele, novamente, ouvir é melhor opção que escutar; pra não ter que se preocupar com os problemas dele, afinal, todo mundo tem problema e cada um com o seu, certo?!?!?!
Errado, sempre errado! Se temos a habilidade escutar, usemo-na, pois! Não escutar é demonstrar, sem palavras, que não nos preocupamos! É dizer, sem som, que não se está interessado! É grosseira e rude indiferença.
As pessoas querem ser escutadas. A carência de atenção, de ser escutado com interesse, de ser levado á sério, têm levado as pessoas a procurar (e pagar por isso) por profissionais cuja função é dar ao seu cliente a sensação de estar sendo escutado.
Isto quando a mulher amargurada não encontra um ouvido que escute, na casa ao lado. O filho não encontre um ouvido atento numa roda de amigos toxicômanos; ou quando perco um amigo que descobre meu desinteresse em seus problemas, e por aí vai...
E quanto às idéias que vem até você pelos mais diferente discursos? Você as ouve ou escuta? Todo discurso soa igual quando simplesmente ouvido! Mas se parar pra escutar... nem todo Pastor de televisão fala da mesma coisa, nem toda conversa familiar é “todo dia a mesma ladainha”, nem sempre é “só reclamação”... Pra saber, precisa-se escutar, processar (interpretar e avaliar) e reagir... e pra reagir com coerência, você precisa escutar tudo! Sob pena de ter uma vida aquém do aceitável... QUEM TEM OUVIDOS PARA OUVIR, OUÇA!

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