A alegria em Deus
Devo começar este texto confessando que embora respeitasse e de certa forma admirasse a capacidade e o fervor de Jonh Piper, eu não era um entusiasta. De fato, nem chegava perto de coisa do gênero. Estava mais para indiferente. Os motivos? Não sei dizer...
Entretanto as coisas mudaram. Ainda não sou o que se pode chamar de entusiasta, ou franco admirador, seguidor ou coisa do gênero. Não por motivos piegas, que pretendem ser piedosos e não são, do tipo “sou um seguidor de Jesus, por isso não sigo este ou aquele”. Embora não seja um entusiasta, certamente não sou indiferente mais. E isto por alguns motivos que alistarei em breve. Isto que vou falar, devo ao John Piper.
O ministério deste pastor batista tem sido uma defesa do que já foi chamado, até mesmo por ele, de hedonismo cristão. O hedonismo é um filosofia que diz que o prazer é o fim último da vida e da existência, e por isso deve ser perseguido até ser alcançado. Confesso que a expressão é forte demais para mim, talvez por causa dos meus escrúpulos, mas, novamente, acho que a questão central não está equivocada. Qual questão?
Piper vem defendendo que a alegria do cristão é alcançada somente em Deus e na manifestação da sua glória. Nada menos do que isto proporcionará alegria verdadeira para o coração crente. A coisa é tão grave, que Deus, sabendo que sua glória é a nossa mais intensa alegria e satisfação, persegue a sua glória e nos orienta e conduz a fazê-lo com tanto zelo quanto Ele mesmo demonstra em relação a si, de modo que esta "paixão por sua Glória" é, no fim das contas, a maior demonstração de amor por nós. Em saber que a Sua glória é o nosso maior bem, ao ser glorificado, somos plenos, completos, felizes de fato.
Não sei dizer quanto tempo demorou para que este raciocício entrasse na minha cabeça, mas já que é para confessar, vamos lá: agora que entrou, fico aliviado. A glória de Deus é pesada, disto sabemos. E como ela nos pode ser a maior alegria? Simples: porque todo o resto é vaidade, leve... o por ser leviano, se vai com o vento...
Uma vez que Deus é a nossa alegria, e não estamos satisfeitos a não ser com Ele, muitas implicações se me desacortinam, das quais alisto apenas 3:
1 - Não é o que Deus nos dará que nos alegrará, ou seja, não é a benção de Deus que almejamos para satisfazer nossa sede por alegria e felicidade; mas o próprio Deus, em pessoa, é esta satisfação. Então, o que ansiamos não é o que Deus dará, como alguma coisa fora dele, uma benção ou um bem; mas do que dele Ele nos dará: sua presença e plenitude.
2 - Por que a cristandade está mais interessada no que Deus tem para dar, do que no que Ele é, está se condenando ao fracasso na busca da felicidade. Eis aqui uma das minhas maiores dificuldades com `Piper, no começo. Fui treinado a crer que nós não deveríamos buscar satisfação, alegria ou felicidade, porque não fomos criados para isso, mas para a glória de Deus. Piper tem me convencido que, se a glória de Deus me alegra, satisfaz e felicita, então, Deus não me criou para uma "glória" infeliz, pesada e cizuda. Não consigo olhar para Bíblia e ver, seja no Antigo ou Novo Testamento, um Deus mal humorado, sem graça, distante e sempre bravo. É assim que muitos ainda o vêm. Ao ver como Deus teve paciência com os israelitas no deserto; ou então o jeito todo cuidadoso e igualmente paciente como convenceu Jonas de sua ira pecaminosa; ou então o zelo e cuidado demonstrado a um povo resmungão diante da terra prometida, mesmo que este povo estivesse diante das benesses simplesmente maravilhosas que Deus lhes prometia e agora estava às vésperas de dar... ao ver como Deus me trata apesar de mim, estou convencido que Deus não é iracundo, pelo contrário, é tardio em irar-se e grande em clemência. Estou feliz em saber que não fui feito para sofrer, nem para ser infeliz, sem humor ou sem alegria. Mas quando entendemos melhor a questão, ficamos sobremaneira contentes e satisfeitos em saber que a glória de Deus, para qual fomos desenhados, projetados e criados, será para nós de grande alegria, indisível.
3 - Que os efeitos colaterais de haver cristãos que não se deleitem em Deus é tão drástico, que só o deleite esquecido em Deus poderá reaver a sobriedade do cristianismo vindouro. É isso mesmo: o cristianismo moderno, em sua manifestação mais geral (generalizar facilita, mas comete injustiças, eu sei, mas não encontro outra forma de ser elegante, então, me perdoem leitores por esta limitação literária), está tão mundanizado e secularizado, que busca satisfação em carnalidades não bíblicas, mas as justifica como sendo "a alegria do Senhor". Não é, certamente não é... carnalidade, satisfação em si mesmo, em coisas e pessoas, mas não em Deus. Satisfazer-se em Deus levaria os crentes a buscá-lo avidamente nas páginas das Escrituras Sagradas, por saberem que lá está a Palavra de Deus, que podem nos tornar sábios para a salvação... A sede de satisfação em Deus nos levaria direto para ele... O que me faz concluir que buscamos satisfação, nada mais, ainda que momentânea. Que pena... não passamos de crianças ignorantes brincando em nossos montinhos de terra suja, negando o convite para conhecer a praia, negando que seja mais divertido brincar com toda a areia disponível, preferindo nosso motinho medíocre e infeliz.
Caros leitores, Deus tem para nós, cristãos, não somente vida, mas vida em abundância. Medite nisso: Deus tem mais alegria para nós do que nós imaginamos ser possível. E esta alegria está encerrada nele. O que Deus tem para nós, e que nem olhos viram, nem ouvidos ouviram, é que Deus habitaria em nós, nos chamaria de filhos, nos tornaria, e tornará tão plenos dele, que com um sorriso que não cabe nos lábios, nós podemos dizer que a sua glória nos invade e toma a terra, como as águas cobrem o mar.
Salmo 16:11: Tu me farás ver os caminhos da vida; na tua presença há plenitude de alegria, na tua destra, delícias perpetuamente.
Comentários
"Porque dele e por ele, e para ele, são todas as coisas; glória, pois, a ele eternamente. Amém." Rm. 11:36